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Foto do escritorJornal Daki

Antes de um líder político, São Gonçalo precisa de um símbolo, por Mário Lima Jr.


Nós, gonçalenses, ignoramos quem somos. Em geral não conseguimos citar nenhum fato de importância sobre São Gonçalo, e há muitos deles. Por causa dessa ignorância, cometemos a heresia de achar que nada realmente positivo aconteceu no município. E atribuímos à São Gonçalo o título de cidade que nada de bom representa.


Uma religião brasileira, cujo princípio básico é jamais fazer o mal, foi fundada em nosso território, no bairro de Neves, provavelmente no dia 16 de novembro de 1908. Poucas cidades podem dizer que assistiram o nascimento de uma religião e a Umbanda tem grande valor para a nossa cultura, por valorizar aspectos negros e indígenas, alma e força brasileiras, tão desprezadas pela ideologia que domina a política nacional.

Como lembrar o gonçalense de que ele vive em uma cidade sofrida, mal tratada, mas que está longe de ser uma cidade sem história, morta ou vazia? Através da divulgação constante de um símbolo.


A bandeira, o brasão de armas e o hino são símbolos oficiais. Nenhum deles destaca a tradição ou o potencial gonçalense no dia a dia da população, mas podem servir de inspiração. Há elementos dentro do brasão que se fossem destacados talvez cumprissem esse papel. A cruz sobre o monte, o Cruzeiro, nos lembra da vocação religiosa do município que é berço da Umbanda, dono do maior tapete de Corpus Christi da América Latina e de uma grande representatividade evangélica.


Aliás, a Pedra da Coruja, local onde o Cruzeiro foi construído com a ajuda de estudantes carregando morro acima areia lavada, brita e cimento, fica na região a partir da qual São Gonçalo se expandiu, a pedra era ponto de vigia na época do Brasil Colonial e ela guarda até hoje perfurações de canhões da Revolta da Cachaça, ocorrida em 1660. Por si só, o contorno da Pedra da Coruja poderia nos lembrar da resistência do povo gonçalense diante das adversidades.



Mudam os governos municipais e com eles a marca usada na sua comunicação. O que não muda é o crime que cometem, a falta de incentivo à criação de uma identidade gonçalense. Os não religiosos poderiam defender o uso do cocar e das flechas indígenas, também componentes do brasão, visto que são eles os primitivos donos do território. O Cine Tamoio, nosso festival anual de cinema, compreendeu bem o valor de um nome e de um símbolo ligados à nossa terra e adotou um índio atirando uma flecha.


Talvez significasse mais para a juventude ter um grafite como símbolo municipal, artistas gonçalenses estão entre os mais famosos do mundo, ou uma simples pipa no alto, tradição que até adultos costumam brincar. O que não pode continuar acontecendo é o povo de São Gonçalo usando camisetas com o nome e a bandeira do urso do estado americano da California, como se fosse um uniforme. Compradas nas principais lojas de varejo, não é só a classe média que usa essas camisetas, o nome da California também já invadiu o Complexo da Alma, no bairro Amendoeira, sem dar um tiro.


A distância entre o Brasil e os Estados Unidos é de 7308 km. Se os americanos conseguem popularizar sua marca entre nós de tão longe, também somos capazes de espalhar nossos símbolos entre nós mesmos. Um que seja usado pela Câmara, pela Prefeitura, nos projetos de empreendedorismo, na fachada dos bares, nas camisetas e até nas pichações nos muros.


Fontes

Mário Lima Jr. é escritor.



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