23 de out.

Anjo é gente

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Por Paulinho Freitas

Eu costumo olhar nos olhos das pessoas. Dizem que assim, se conhece o interior de seu interlocutor. Balela! Tenho olhado dentro de olhos angelicais que não traduzem o demônio interior que trazem, assim como olhos riscados feito os de um felino feroz pronto para o ataque, que trazem em seu interior, a paz e o carinho dos gatos domésticos.

Olhar nos olhos de Seu Jorginho é olhar para um anjo na terra. Ele trabalhou no GRESU Porto da Pedra, trabalhava na limpeza, só vivia cantando, quando alguém o cumprimentava, ele já abria um sorriso, perguntava pela família e mandava abraços para todos. E arrematava: “A Porto da Pedra é uma Família!”

Depois que a escola saiu de sua quadra lá no Vila Laje, nunca mais o vi. Para minha agradável surpresa, numa tarde de compras, encontro seu Jorginho e sua “Preta”, assim ele chama sua esposa, caminhando pela Rua Abílio José de Matos. Muito feliz fui cumprimentá-lo e ele, com aquele sorriso de sempre, a voz fina e pausada me saúda: Ô seu Paulinho! Que prazer estar com o senhor novamente! Como vai a esposa e filhos? E nossa escola, como está? Assim que eu puder, vou lá escutar uns sambas e conversar um pouco com os amigos.

Falei com ele de minha enorme felicidade em vê-lo e o quanto gosto dele. Falei sobre a família e a escola e perguntei como ele estava, como estava sua vida. Seu Jorginho me responde: Aposentei-me! Ceguei-me e aposentei-me. Estou tão feliz! Posso acordar um pouco mais tarde, ouvir as notícias no rádio e os jogos do Mengão na TV. Aliás seu Paulinho, o senhor vai me perdoando, mas está quase na hora da Ave Maria. Não posso me atrasar.

Dei um abraço apertado no meu amigo, que segurava o ombro de sua esposa com uma das mãos e com a outra segurava um sorvete. Ele saiu andando feliz da vida e eu fiquei ali, de pé, olhando aquele ser indescritível indo embora, deixando um rastro de boa energia pelo caminho. Anjos existem e habitam nossa terra.

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