ADEUS, NOBRE JORNALISTA!
Por Helcio Albano
Sobrinho se foi. Aquele que abria os caminhos, findou sua trajetória aqui na Terra. Dele, terei pra sempre sua generosidade e um quadro que me presenteou, que ostento orgulhoso em minha sala.
O jornalista, radialista e editor da revista Evidência, e de tantos outros veículos de comunicação Daki e alhures, abriu caminhos no mundo do jornalismo e da comunicação em São Gonçalo. Foi corajoso, pioneiro e vivaz em tudo o que fez.
Resiliente como um bom botafoguense, estava sempre pronto pra recomeçar com a energia e o entusiasmo de um garoto, vide o programa Parada Cultural, na Rádio Radio Aliança FM, que comandava junto com os amigos Decio Machado e Ze Salvador todas as sextas-feiras.
Sobrinho me abriu os caminhos no jornalismo político-sindical, passando-me o bastão do comando da assessoria de imprensa do Sindspef, onde aprendi tudo sobre prefeitura e funcionalismo público de São Gonçalo.
Foi lá na antiga sede do sindicato onde ele abriria as portas para jovens poetas expressarem sua arte num evento batizado pelo Renato Cardoso de Diário da Poesia, que mais tarde criaria um jornal de divulgação do trabalho do grupo de artistas por iniciativa do inquieto jornalista.
E por falar em poesia...
Sobrinho era um poeta carregado de romantismo. Isso descobri na convivência cada vez mais forte que tive com ele no período em que colaborava como articulista no Jornal Daki, quando ainda era impresso. Desse convívio, bate-papos e muitas risadas, surgiu a ideia de fazer um livro de memórias sobre a sua vida.
Ele (e também sua esposa, a saudosa Maria Amélia) já estava diagnosticado com um câncer (coisa que só fui saber há pouco tempo). Isso era 2014. E confiou a mim a edição de sua história em livro, com o singelo título "Minha vida em prosa, versos e amizades", nome que me veio à mente quando descarregávamos de seu carro os fardos do Daki que todo mês íamos buscar na gráfica de A Tribuna de Niterói pra distribuição.
Está lá na obra publicada em 2015 o pernambucano de Palmares, que entrou em São Gonçalo pela Venda da Cruz pra depois se fixar no Mutuá, bairro que abriga ou já abrigou outros tantos poetas e personalidades de peso da cidade.
No livro, Sobrinho conta sua saga desde Catende, quando quase foi engolido pelo rio Gameleira e como essa experiência o fez despertar na vida, que sempre agradeceu viver em e com abundância na sua suprema simplicidade.
A capa do livro guarda um sorriso franco e aberto que fez para o fotógrafo após ouvir minhas piadas no estúdio com esse propósito. Se não tivesse o sorriso, não era o J. Sobrinho.
O lançamento botou leitores e amigos pelo "ladrão" da Casa das Artes, um sucesso! Depois fizemos um outro lançamento no Galeria Sintonia Cultural, com a presença do mestre Aroeira.
No final do ano passado, assim como em 2014, me procurou pra fazer a segunda edição do seu livro de memórias. O câncer tinha voltado, mas, assim como da outra vez, nada falara pra mim e pros amigos. Fui à sua casa, separamos os textos e acertamos detalhes da edição, que agora será post mortem para a tristeza de todo mundo.
Agora compreendo, como se fosse uma revelação, começar o seu livro com esse poema:
O SENTIDO DA VIDA
A vida é como a fumaça,
vem, envelhece e logo desaparece;
não tem trapaça.
É como um sopro, igualzinho ao vento,
vindo de dentro da alma.
Todo o dia amanhece e o tempo nos aquece.
Vitórias, derrotas, erros e acertos são acessórios
da nossa história.
A caminhada relembra
lindos e velhos concertos
e não são as rugas que nos fazem envelhecer.
Só envelhece quem se entrega,
sem acreditar que novo dia vai chegar.
Quem se abandona quem se despreza
nunca sabe o que é prazer, o que é viver.
Acredite, a vida tem bons sentidos: leia, pesquise, sorria,
sinta a energia que emana de você.
A vida é assim como ela é,
portanto, faça dela uma grande e eterna
alegria de prazer e de viver.
***
Até breve, meu amigo.
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.