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Foto do escritorJornal Daki

A vidinha de Roberto, por Fábio Rodrigo


Roberto era um homem realizado. Após sair sua tão sonhada aposentadoria, foi morar com sua esposa em uma humilde casa num lugarejo no interiorzão do estado. Um pequeno distrito bastante afastado dos centros urbanos. Muitos lhe perguntam: o que tem pra fazer neste lugar, Roberto? Ele ignora as provocações de seus amigos e responde que o contato com a natureza é o que sempre sonhou pra sua vida.


Da sua casa até o centro comercial mais próximo são quilômetros e mais quilômetros de distância. A cada quinze dias, Roberto vai até lá para comprar o que precisa para abastecer sua casa. Roberto cultiva sua própria horta no seu quintal. É dali que colhe as verduras e legumes que fazem parte de sua alimentação diária. O peixe, a carne de porco ou de frango que consome diariamente vem de seu criadouro nos fundos da casa.


Na região em que mora, não há internet nem rede de telefone celular. Ele diz que não precisa destas coisas. Arrependido de ter saído da cidade grande? Jamais. Roberto se considera o ser mais feliz do mundo. Conforme ele mesmo fala, encontrou o paraíso. Vive hoje em uma pequena propriedade rural, em que tudo o que come é produzido lá mesmo. Quando lhe perguntam sobre ganhar dinheiro com o que produz, prontamente responde que não. “O que tenho é o suficiente pro meu próprio consumo”.


Roberto é feliz por não ter ambição alguma. Chegara ao ápice de sua vida. Hoje tem a vida que pediu a Deus. Seus filhos estão casados e bem resolvidos. Resta somente passar o resto de sua vida com sua esposa no lugarejo que escolheu para viver. Seus amigos estão todos em busca de novos desafios. Seja para novo emprego, seja para a abertura de empresa, seja para uma nova aplicação financeira. Eles não entendem o que passa na cabeça de Roberto. Conforme eles dizem, Roberto foi se esconder naquele fim de mundo.


Passados alguns anos, enquanto Roberto mantém a sua vidinha simples, seus amigos já acumularam diversas experiências. Estão cheios de novidade para contar. Enquanto eles continuam cheios de planos, Roberto continua com a vida que escolhera. Enquanto eles querem sempre mais; Roberto, o mesmo. Aqui a zeugma omite o verbo e exprime a morosidade de Roberto. O tempo passa e Roberto se sente cada vez mais feliz por viver onde sempre quis. Roberto não percebe que os anos estão passando. Que está envelhecendo. Que suas mãos não lhe permitem mais capinar o seu próprio quintal. Que está perdendo suas forças. Roberto está morrendo. Morrendo por falta de ambição.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.


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