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A Festa dos Santos Reis: uma tradição que vem de longe

Por Verônica Inaciola

São Gonçalo mantém a tradição secular do reisado/Foto: Divulgação
São Gonçalo mantém a tradição secular do reisado/Foto: Divulgação

Uma festa que vem de longe, trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses que com sua pedagogia jesuítica, com autos teatrais, danças e cantos, introduziram o cristianismo no novo mundo.

Um processo de cristianização, contado por diversos historiadores e que conforme podemos conferir nas considerações de Mário de Andrade, trazia antigos costumes europeus como as Maias, as Janeiras e as Reisadas. Ritos que em Portugal já existiam inspirados nas crenças pagãs e logo apropriados pelo cristianismo, convertidos em procissões e cortejos.

A abordagem historiográfica mais recorrente sobre a existência dos santos é de que o culto à eles foi iniciado por Santa Helena (mãe do Imperador Romano Constantino) no século III, que convertida ao cristianismo, nas entranhas do mundo antigo, abrigou muitas relíquias sagradas, dentre elas os ossos dos Reis Magos. Mais tarde missionários, já no século IV levaram o relicário para Milão, conservado em sarcófago de pedra na Basílica de Santo Eustórgio. Com a Guerra dos Lombardos no ano de 1164 o Imperador Frederico Barba Roxa, devido a uma negociação, autoriza levar os restos mortais dos Reis Magos para a Catedral de Colônia na Alemanha, lugar ainda hoje de intensa peregrinação.

Na passagem do Evangelho de Matheus no capítulo 2, que descreve o caminho percorrido pelos Reis do Oriente, também chamados de Magos, existem relatos de serem também astrônomos, é que se desencadeia toda essa devoção, pois foram eles os primeiros a conhecerem o menino que acabara de nascer, trazendo uma nova esperança para o mundo, o filho de Deus. Cumprindo-se assim as profecias. É importante reconhecermos nessa passagem que os chamados Magos do evangelho não eram Judeus, vinham de outras regiões e tinham outras crenças. Um forte exemplo contra a intolerância religiosa contemporânea.

Assim o dia 6 de janeiro entra para o calendário cristão para celebrar os Magos, por ser o dia em que eles encontraram o menino e lhes ofertaram os presentes; ouro, incenso e mirra. A partir daí várias narrativas vão se formando e o imaginário dos devotos foliões chancelado por um catolicismo popular que se legitimou por um sincretismo religioso vai dando novos contornos ao mito fundante que originou os reisados brasileiros, os quais também fazem parte as Folias de Reis do sudeste.

Embora encontrando alguns interditos por parte do próprio catolicismo que introduziu o auto dos reisados, o ciclo natalino, período compreendido entre o dia 24 de dezembro e 6 de janeiro ( no Rio de Janeiro esse período se estende até 20 de janeiro em homenagem ao padroeiro São Sebastião), continua sendo cumprido pelos devotos dos Santos Reis.

Relembramos aqui um pouco dessa história, para entendermos como surgiu os autos de devoções populares como o das Folias de Reis e como essas devoções chegaram ao Brasil, e em que medida elas assumiram um protagonismo sagrado onde os Santos Reis, no imaginário popular foram traduzidos em apenas um nas exclamações dos seus devotos. “Santos Reis é meu santo de devoção”! Não que eles não tenham conhecimento de que Gaspar, Belchior e Baltazar são santos distintos, mas a fé precisa estar vinculada a figura dos três para a realização dos milagres, uma espécie de simbiose necessária, para que a força coletiva represente o caminho mais eficaz para o alcance das graças. Lição essa que podemos levar para as nossas lutas cotidianas na reivindicação dos direitos sociais e humanos.


Salve os Santos Reis! Vivas aos nossos mestres e foliões reiseiros!

 

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Verônica Inaciola é doutoranda em Ciências da Religião, Mestre em Ciência da Arte, Pedagoga, compõe a equipe acadêmica da IOV Brasil, membro da Comissão Fluminense de Folclore.





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