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Foto do escritorJornal Daki

A crise, por Fábio Rodrigo


O náufrago/reprodução
O náufrago/reprodução

Ele atingira um patamar financeiro que nunca havia imaginado alcançar. Sua empresa havia se tornado uma das mais importantes do país. Estava em um momento maravilhoso com sua família. Viviam em uma casa em bairro nobre. Seus filhos estudavam no colégio mais caro da cidade. Ele tinha um corpo esbelto e saudável. Havia muita fartura em casa. Mas aí veio a crise.


As vendas diminuíram. Ele teve que reduzir o número de funcionários. Cortes e mais cortes de gastos foram anunciados. O aluguel caro fez com que eles se mudassem para uma casa menor. Matriculou os filhos em outro colégio, para diminuir custos com mensalidade. Viagens e passeios nos fins de semana deixaram de fazer parte da rotina familiar. Tiveram que se adequar à nova realidade financeira. Mas aí veio a crise.


A empresa tinha poucos funcionários e perdia clientes. Empréstimos e mais empréstimos se acumulavam. Ex-funcionários entraram com ações judiciais. Vieram os inúmeros problemas financeiros e emocionais. Vendeu o carro para pagar dívidas. Ele e sua família passaram a usar o transporte coletivo. Passou a se alimentar mal. Mudaram para uma casa bem modesta em um bairro de classe baixa. Mas aí veio a crise.


Decretou a falência da empresa. Os poucos funcionários que restavam foram demitidos e orientados a buscar seus direitos na justiça. Sua casa foi penhorada. Separou-se da esposa, e os filhos decidiram ficar com a mãe. Passou a morar em um casebre cedido por um familiar. Arrumou um emprego de ajudante em uma mercearia perto de casa. Estava muito magro e acabado. Mas aí veio a crise.


Foi demitido da mercearia. Seus familiares cortaram todos os laços com ele. Até seus filhos não o procuravam mais. Perdeu tudo o que tinha. Passou fome. Entregou-se à mais profunda depressão. Desorientado, encontrou abrigo em uma habitação rupestre, numa ilha deserta. Sobrevive comendo vegetais e animais que encontra pelo caminho. Com uma imensa barba e cabelos até a cintura, tornou-se irreconhecível. É hoje um bicho que vive no meio do mato.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.





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