A bala come e o povo morre de fome!
Por Leila Araújo*
Na manhã de sábado (31/07), às cinco da manhã, o coordenador do Grupo Acesso Cultural (Alberto Rodrigues), a coordenadora do Afrotribo (Paula Tanga) e o coordenador do Lutadores da Fé (Alex Café) foram retirar doações no Ceasa (legumes, frutas e verduras) para atender a 58 famílias de ex-catadores que vivem abaixo da linha da miséria em Itaoca e que são apoiadas pelo Coletivo Voz do Salgueiro, coordenado por Jefferson Souza. Essas famílias vivem às margens do antigo lixão de Itaoca "desativado" desde 2012. É mister ressaltar que há, ainda, nas redondezas do antigo lixão de Itaoca outras 100 famílias nesta mesma situação de alta vulnerabilidade social.
Após separar e embalar doações, o grupo de articuladores sociais estava indo ao encontro de Jefferson Souza, quando recebeu a notícia de que havia tido uma operação de segurança pública no Salgueiro e que não estava permitindo a entrada na região. É importante ressaltar que mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal, de 5 de junho de 2020, que proíbe operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia por Covid-19, as operações continuam acontecendo de forma constante e muitas vezes desastrosa.
Fato é que a ação social das instituições que compõem o Fórum Social Gonçalense (FOSG), teve que ser adiada.
Em todo o Brasil, neste momento de crise sanitária e econômica, a sociedade civil tem se mobilizado para mitigar os efeitos da pandemia, especialmente promovendo o direito constitucional à segurança alimentar, diga-se de passagem, papel do estado.
O efeito colateral da ausência de políticas públicas e/ou de ações efetivas por parte do poder público que assegurem os direitos básicos da população, principalmente das pessoas em situação de rua e de vulnerabilidade social, só arrasta cada vez mais as famílias mais carentes ao desespero, à exposição ao vírus, à violência e às inúmeras mazelas que chegam nesses territórios como sentença de morte, ora executada em doses homeopáticas, como a fome e a inanição, ora praticada pelo próprio estado que ignora os princípios da democracia e do direito humano que regem o nosso país.
Hoje, segunda feira, 02 de agosto, finalmente foi possível a conclusão desse trabalho em rede, que atendeu às 58 famílias de ex-catadores de Itaoca.
Algo de muito esdrúxulo está acontecendo no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro e mais especificamente em nosso município.
Mas uma força está surgindo e agirá na defesa do bem estar social e do direito à dignidade humana do povo gonçalense.
Ativista ambiental e coordenadora do projeto JIS Urbano.