Nem tudo que reluz é rio ou ouro, por Erick Bernardes
Lembro de duas maneiras de narrar a história do Rio do Ouro que remetem às fábulas ou lendas colonias. Uma, contada por ex-funcionário idoso de tradicional laboratório industrial de ali de pertinho; outra, perpetuada pela comunidade dos antigos residentes do bairro com nome do metal e capaz de fazer reluzir ambições.
O Rio do Ouro é assim, lugar onde o imaginário tem salvo-conduto para semear histórias. Lembro de Jairo jurando haver, nas redondezas, cavernas com dois rios subterrâneos onde, em seus tempos de garoto, ele costumava visitar. Um mais caudaloso e importante, outro agonizante e brilhoso. Segredou ainda, sobre esses tais afluentes escondidos, que, noutros tempos, os garimpeiros se lançavam aos belíssimos minerais. Disse assim:
— Eu era moleque, lá pelos idos de 1950, nas bandas de uma fazenda que chegava até o Engenho do Roçado. Meu pai trabalhou na cerâmica de mesmo nome, mas tudo quanto era funcionário resultava dos filhos de antigos garimpeiros.
Bem, de acordo com Jairo, estaria aí a explicação acerca da nomenclatura do lugar: Rio do Ouro, registrado e confirmado nas cercanias de São Gonçalo. Mas não, não é bem isso, outra narrativa avulta nas cabecinhas dos moradores. Reza a lenda que, atravessando a região, um trem cargueiro, abarrotado de ouro, tombou às margens do riacho local. Águas turvas e metal nobre e pesado, daí o leitor intui a confusão que se deu. Centenas de cidadãos chafurdando as caras nas águas barrentas e tentando retirar seu quinhão precioso.
Pois bem, temos aí duas versões de tantas outras curiosas. Rio do Ouro, lugar de História e imaginações, onde outrora uma fazenda existia, hoje loteamentos se concretizam em imobiliárias prósperas demais. E as barras de ouro? Ah, quem sabe não estão lá no fundo, quietinhas, aguardando por você?
Erick Bernardes é escritor e mestre em Estudos Literários.