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Foto do escritorJornal Daki

No setor de protocolo, por Fábio Rodrigo



O corredor estava vazio na repartição pública. Provavelmente deveria ser horário de almoço. Eu estava à procura de uma informação que me levasse ao destino certo: o setor de protocolo. Mas não havia quem pudesse dar esta informação. Percebi que havia uma porta entreaberta. Decidi entrar assim mesmo e aguardar. Se alguém chegasse, eu diria que estava aguardando meu atendimento. Aproveitei para pegar um copo de água no bebedouro. No segundo gole de água, veio um engasgo seguido de um acesso de tosse. Subitamente, uma das portas da sala se abre. E a secretária me diz: entrou no lugar errado.

Refeito o susto, perguntei:

‒ Quem? Eu?

‒ Não. A água, respondeu ela sorrindo.

‒ É verdade...

Após me refazer do acesso de tosse, tive que dar uma satisfação à secretária:

‒ Eu estou aqui para...

‒ Protocolar o pedido de sua averbação.

‒ Isso mesmo... O setor responsável...

‒ É aqui mesmo... É que ainda não estamos na hora de nosso atendimento.

‒ Certo. Eu percebi.

‒ O senhor não está agendado pra hoje.

‒ Mas eu nem me identifiquei ainda. Meu nome é...

‒ Honório Francisco de Freitas.

‒ Como sabe meu nome?

‒ O senhor já esteve aqui.

‒ É verdade. No dia...

‒ 14 de abril.

‒ Isso mesmo. Mas não me informaram que...


‒ Sim. É preciso agendar. O senhor deve entrar em contato com este número aqui. – apontou um número afixado na parede.

‒ É que no dia que estive aqui...

‒ Eu sei...explicaram ao senhor que não era preciso agendar.

‒ Exatamente.

‒ Mas agora é preciso agendar primeiro.

‒ Não é justo comigo, pois eu hoje trouxe...

‒ Todos os documentos que lhe foram pedidos.

‒ Sim. Trouxe tudo: cópias de meus documentos, cópias de comprovantes de empregos anteriores, todas devidamente autenticadas, declarações disto e daquilo...

‒ Entendo, senhor.

‒ Deixei de fazer diversas coisas hoje para resolver isso e você me diz que eu devo agendar primeiro. Quer que eu fique contente com isso?

‒ Lamento, senhor. Foi como lhe informei.

‒ Tudo bem. Eu sei que você não tem culpa. Está aí fazendo o seu serviço. Afinal, quem sou eu para me ocupar de seu serviço, ou com seu serviço, ou em seu serviço. Ah, sei lá. Não sei qual preposição eu coloco. Enfim, eu vou agendar hoje mesmo.

Depois de me dirigir até a porta, retornei para a secretária:

‒ Você pode me informar...

‒ O horário do atendimento pelo telefone?

‒ Não... onde é o banheiro?

‒ No final do corredor, senhor.

‒ Obrigado.


Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.


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