Em defesa da poesia: o 'SonetATO', de Eduardo Maciel
Seria imprudente ao especialista não mencionar o esmero com que a balança da forma e da função é manejada na escrita de Eduardo Maciel. Neste seu livro de sonetos, SonetATO, o estilo equilibrado marca o ponto de coesão tão necessário ao artista que se lança ao empreendimento da poesia.
Como não poderia ser diferente, Maciel prima pela sonoridade dos versos sem perder de vista a expressão sofisticada de quem sabe bem como se posicionar no panorama literário. Já na configuração do título da obra, deparamos com o prenúncio de uma atitude, o ATO, visto como veia poética, em defesa do tipo estrutural escolhido: o soneto. Soma-se a isso o empenho do artista em evidenciar o rigor de um eu-poético de herança clássica e, sobretudo, necessário ao seu fazer literário. Segundo o próprio artista: “SonetATO traz uma literatura clássica, com diversos tipos de sonetos, como o Soneto Simétrico, Soneto de Métrica Livre, Soneto de Rima Travada, entre vários outros, valorizando o gênero textual. É um resgate cultural do tipo mais formal de poesia, tão apreciado em outros tempos, mas cada dia mais escasso. SoneTATO vem em defesa da formalidade, mas transformando temas corriqueiros em arte”. Por outro lado, e de modo geral, o volume apresenta nuances de modernidade, justamente por proporcionar ao leitor o exercício da metalinguagem que se espraia ao longo da obra. Com a variação dos modelos de soneto cujos próprios títulos apontam à diversificação, tais como o “SONETO ITALIANO”, o “SONETO MONORRÍMICO” e o “SONETILHO”, o conjunto da obra se revela plural e uníssono ao mesmo tempo. Há de se ressaltar o rigor formal dos textos de SonetATO, rigor de uma voz que se ergue em defesa do método de metrificação estrutural, capaz de impressionar o leitor.
Eduardo Maciel venceu uma das edições do Concurso Literário Jovem Embaixador, foi também coautor de 2 obras através de Concurso Literário promovido pela UNESCO e parceiros locais, obras essas publicadas em 3 idiomas em 160 países. Sua produção poética persiste desde a infância, muito embora a paixão por sonetos tenha sido mais tardia. Bisneto da poetisa Auta Maciel, membro da Academia de Letras de Barra Mansa, dela herdou a habilidade com a forma escrita da arte. Dedica-se a todos os tipos de soneto já catalogados e sua obra é contínua e incessante.
O livro de Maciel é o primeiro de uma série de volumes de sonetos que o poeta carioca pretende lançar ao longo do ano. O próximo livro, SonetIMAGEM, traz a interlocução entre sonetos e fotos; o terceiro, cruzando arte visual e sonetos, será o SonetARTE; o quarto será uma interlocução com a música, SonetONS; o quinto, com o cinema, SonetCINE; o sexto, comunicando sonetos com o teatro, ainda está apenas nos planos do autor; e o último livro da série, SoneTREZENTOS, volta ao formato de SonetATO, começando no 300º soneto, completando a obra de 350 sonetos.
Portanto, fica aqui uma pitada de provocação a quem se mostre interessado em degustar o excelente trabalho de Eduardo Maciel, ou melhor: fica um convite para quem deseje saborear literatura da melhor qualidade, desta quase raridade de tipos poéticos chamados sonetos.
Referência
MACIEL, Eduardo. SonetATO. Rio de Janeiro: Autografia, 2018.