Exceção, por Fábio Rodrigo
“Professor, como se escreve exceção?” – indagou-me a aluna em sala de aula enquanto produzia uma redação solicitada por mim.
Era uma aluna daquelas que sentam na primeira carteira e que se esforçam para desempenhar bem sua nobre tarefa de estudar. A jovem estudante, de aproximadamente 13 anos, candidamente me perguntou como se escrevia a palavra exceção. Ela não sabe o que é exceção. Quer dizer, deve saber. Senão ela não teria me perguntado como se escreve esta palavra. Mas o que ela sabe sobre a palavra exceção?
Caminhei da carteira na qual ela estava até o quadro e me perguntei: será que ela quer só saber a maneira como se escreve esta palavra? Ou será que este é um gatilho pra que ela pergunte o seu significado? Talvez ela tenha dúvidas quanto ao sentido desta palavra. Certamente ela se sentirá confortável em ouvir de mim a explicação quanto ao seu significado. E se ela não perguntar o significado de exceção? Mesmo assim, eu tenho que ter a resposta para dar a ela. Mas que resposta? Será que ela sabe que vivemos em um estado de exceção? Com certeza não. Mas não posso incutir em sua mente juvenil este tipo de reflexão. Ela não entenderá, pois não tem maturidade suficiente para absorver ideias tão complexas. Será que ela sabe que no Brasil estudar é para poucos? E que esses poucos podem ser chamados de exceção? Ou seja, ela é exceção. E ela não tem consciência disso. Meu papel de educador é de levá-la a este entendimento. Mas como? Como explicar pra ela que exceção é muito mais do que ela imagina.
Talvez o que queira saber não é o que eu penso que ela deve saber. Difícil encontrar um meio termo nisso. E sairmos satisfeitos. É isto que eu quero: que ela acrescente uma informação a seu repertório linguístico. Assim, eu cumpro meu papel de fazer a ponte entre o que ela sabe e o que ela precisa saber. Ela ainda não me perguntou o sentido da palavra exceção. Eu já estou no quadro com o piloto na mão para escrevê-la. Finalmente escrevo no quadro com letras garrafais: EXCEÇÃO.
Ela olhou pra mim, agradeceu e deu um sorriso que demonstrou total contentamento. O que importava pra ela era saber a grafia da palavra exceção. Era isso que ela queria. Apenas isto.
Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.