Inimigo da Educação, por Mário Lima Jr.
Cada centavo bem investido em educação é uma conquista de 210 milhões de brasileiros. Cada centavo cortado arbitrariamente é um ataque contra o futuro do país, que depende de educação ampla e de qualidade para promover desenvolvimento econômico e social.
Atingindo desde a educação infantil à pós-graduação, o governo Bolsonaro iniciou o bloqueio de R$ 7,4 bilhões do orçamento do Ministério da Educação, alegando necessidade de se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal e sobreviver à interminável crise econômica. Embora a lei e a crise existam, a justificativa não é legítima. O governo não planejou os cortes, para melhor adaptação das instituições, nem dialogou com as mesmas. Tampouco o bloqueio seria inevitável, de acordo com 257 deputados federais que assinaram projeto de lei complementar que proíbe o corte de verbas em universidades. A redução orçamentária forçada prova que, do Palácio do Planalto à Esplanada dos Ministérios, a maior pretensão educacional é tão pequena quanto ensinar “para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta”, palavras de Jair Bolsonaro no Twitter a respeito da função do governo.
O valor do conhecimento humano não é bem compreendido pelo time bolsonarista, composto principalmente por militares e radicais ideológicos, classes avessas ao pensamento e à contradição. Portanto, as diversas faces da Educação responsáveis por transmitir conhecimento, entre elas a área de Humanas, não recebem o incentivo merecido do Governo Federal. Desvalorizando de propósito, ele se posiciona como inimigo.
O distanciamento entre o governo Bolsonaro e o projeto de educação que o Brasil aguarda ansioso vem do desprezo pelas raízes e valores nacionais mais íntimos. Bloqueando recursos, sofre em primeiro lugar o pobre, que mais precisa deles. Tantas vezes vilipendiados pelo presidente ao longo de sua carreira política, são atingidos também negros e índios, de uma só vez, com a redução da educação de um povo basicamente formado por essas raças e ainda bastante carente em relação ao estudo da sua origem e capacidade.
Não se retira mais da metade do orçamento livre de um polo de ensino, de um dia para o outro, sem um projeto maligno por trás dessa atitude. Não em um país que arrasta crimes sociais ao longo dos séculos e investe tão pouco por aluno em comparação com países desenvolvidos. A Universidade Federal do Sul da Bahia, por exemplo, perdeu 54% dos seus recursos discricionários. A do Mato Grosso do Sul perdeu 52%.
Professores e alunos estão chocados, preocupados, tristes. Não porque ficaram sem as orgias semanais, isso é estupidez e preconceito. Graças ao bloqueio, muitos já perderam o sonho de contribuir para um Brasil melhor através da pesquisa. Os movimentos negro e indígena também estão mobilizados contra o posicionamento governamental em relação às suas causas porque conhecem na pele os antigos sofrimentos de cada grupo.
O que o governo Bolsonaro pratica não é política educacional, não é evolução. Desconstruindo desde o legado do Patrono da Educação ao sacrifício dos estudantes universitários de maneira descontrolada, ideológica e irracional, vemos a completa “desumanização, o não reconhecimento do outro”. Conceito mais preciso de fascismo na opinião de Leonardo Boff, que o atribui a Jessé Souza.
Mário Lima Jr. é escritor.