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Foto do escritorJornal Daki

A performance literária na poesia de Suzane Silveira



Assim como as peças teatrais contêm atos, cenários, personagens e também o abrir e fechar das cortinas, o livro Performances poéticas, de Suzane Silveira, traz a público o descortinar de uma poesia voltada para o corpo em movimento, por meio de uma plasticidade cênica que joga com um eu-lírico ora nostálgico, ora revelador de certa melancolia.

A autora nasceu no município de São Gonçalo e não abre mão de declarar o seu amor pela cidade natal. Embora ainda seja muito jovem, Suzane Silveira se destaca nas inúmeras atividades que exerce. Apaixonada desde a infância por literatura, música e desenho, e tendo participado de antologias e concursos de contos e poesias, agora a artista se lança na empreitada da poesia com o seu primeiro livro solo: Performances Poéticas. Ao tomar como vertente estética motivadora nomes como Gilka Machado, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Nelson Rodrigues, o livro de Suzane já diz muito do seu estilo artístico. Ela é professora, pesquisadora e atriz, tendo atuado em diversas peças teatrais no município gonçalense. Atualmente faz parte do coletivo “Teatro das Eras” que, desde 2014, destaca-se na região de São Gonçalo e proximidades.

Valendo-se da experiência performática que lhe é peculiar, Silveira oferece ao leitor uma poesia que dialoga com a plasticidade do texto e não dá descanso a quem espera sequências de poesias regulares e, por isso, repetitivas. Do mesmo modo, em Performances poéticas não existe previsibilidade formal nos diversos poemas-capítulos que constituem o todo da obra, que podem aparecer em prosa ou em verso. E isso se percebe em dois dos textos mais emblemáticos: “São Gonçalo, 25 de novembro de 2007” (p. 37) e “O terminal rodoviário” (p. 24), pois se tratam de poemas compostos em parágrafos únicos, ou seja, configurados ao melhor modo epistolar e em poema em prosa. O livro chega sob o selo Birrumba, do grupo Multifoco, e é dividido em 3 seções (ou sessões, já que assume a nuance cênica) que vão do “Primeiro ato” ao “Terceiro ato”, mas sem antes apresentar uma página com a listagem de todos os personagens que interagem na lírica do discurso: “O amor”, “a fome”, o “medo”, “Gilka Machado”, “C.”, dentre outros. Com isso, os poemas contidos na obra de Silveira seguem cada eixo temático, abrindo “espaço no mar do mistério” (p. 35) dessa subjetividade convulsa que faz parte da proposta da obra.

Conforme sugere o próprio título do volume Performances poéticas, nota-se que Silveira dispõe de textos sobremaneira dinâmicos, tanto em sentido quanto na estrutura formal. Aliás, já na orelha do livro, há um poema que chama mesmo atenção: “Poema-orelha”, cujo tema vem bem a calhar quanto à proposta cênica da obra, a saber: “Abram-se as cortinas”. E isso diz muito do arcabouço dos poemas escolhidos por Suzane Silveira, pois como ficou referido acima, o ambiente teatral faz realmente parte do “ser” poeta da escritora.

Referência: SILVEIRA, Suzane. Performances poéticas. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2018.


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