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Foto do escritorJornal Daki

O gabinete itinerante do Salvador, por Mário Lima Jr



Salvador Soares Couto é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e vereador da cidade de São Gonçalo. Quer dizer, em primeiro lugar, Salvador é vereador gonçalense e, depois, bispo da Universal. Desculpe, fiquei confuso agora. Na Câmara ele cita o nome do Senhor e na igreja ele pede voto. Quem faz isso é bispo, vereador ou o quê?

Na ação chamada por Salvador de “gabinete itinerante”, ele circula pelos bairros de São Gonçalo, e visita até Niterói, fazendo favores como emissão de segunda via de identidade e isenção de taxa para casamento. A atividade, que não faz parte das tarefas de um parlamentar (nem de um líder espiritual), acontece dentro das igrejas, com cartazes de Salvador pendurados nas paredes ao redor. Uma equipe recebe e atende o povo precisando de ajuda, pessoas que saem do local prontas para retribuir o favor nas urnas. A gratuidade em serviços para pobres, na verdade, é direito estabelecido na Constituição Estadual e no Código Civil.

Para ser um bom vereador, não basta ajudar a reconstruir famílias através de trabalho missionário, conforme a biografia de Salvador no site da Câmara. Ser um homem de Deus, ou do povo, também não é suficiente. É preciso saber legislar em defesa dos interesses da população e fiscalizar o trabalho do Executivo.

Como parlamentar, a atividade mais frequente de Salvador é propor que pastores e obreiros sejam aplaudidos na sede do Poder Legislativo, a casa do povo. Ele acumula 167 moções de aplausos e apenas 25 projetos de lei. Entre os projetos, está o “Dia Obreiro Universal”. No máximo dois ou três têm capacidade de provocar mudanças na decadente São Gonçalo, como a proposta de instalação de painéis de energia solar nas escolas e creches do município.

A enorme quantidade de moções de aplausos não é exclusividade de Salvador. É aplaudindo à militância e aos bajuladores que parlamentares vazios, corruptos, assassinos e ladrões, eleitos pela fama de suas atividades ilícitas, mantêm suas carreiras políticas.

São Gonçalo precisa se ver livre da esmola. O corte de cabelo, a medição da pressão arterial e o pula-pula gratuito para as crianças brincarem são as migalhas da vez, distribuídos pelos “gabinetes itinerantes”, ou naquilo que outros parlamentares chamam de “ação social”. O povo aceita tudo de bom grado, tamanho é o desespero. Como um animal faminto que cai em uma armadilha, atraído pela isca. Mas quem faz favor está pensando em si mesmo e em manter o vencimento de quase 15 salários mínimos por mês, não no que é melhor para a cidade a longo prazo.


Mário Lima Jr. é escritor e cidadão gonçalense. E vice-versa.

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