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Ao ilustre Rui Barbosa, por Fábio Rodrigo


Em um dia de muito calor no Rio de Janeiro, adentro na antiga chácara que hoje abriga a Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada no charmoso bairro de Botafogo. Prontamente um guia me conduz a cada um dos aposentos, que preserva o mobiliário da época em que Rui Barbosa lá vivia, além de objetos pessoais dele. Interessante ver a grande quantidade de livros que compõem o ambiente e saber que ele foi um grande estudioso da língua portuguesa, além, é claro, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.


Além de escritor, Rui Barbosa foi um grande estadista. Não vou entrar em discussão sobre seu posicionamento político, pois muito se afasta do meu. Mas fico imaginando o que diria Rui Barbosa nos dias de hoje diante de tantas escabrosidades no meio político. Credita-se a ele a seguinte frase: “O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver.” Em época de reforma da previdência e reforma trabalhista, esta frase nos diz muito. “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.” Não. Essa não foi de Rui Barbosa. Aliás não sei quem a disse. Mas me veio à lembrança, pois também parece bem atual frente ao descalabro em que vivemos.

O que diria o grande jurista Rui Barbosa diante de tamanha falta de justiça no meio judiciário? Será mesmo que “as leis são um freio para os crimes públicos”? Basta olhar os noticiários e ver que não é bem assim. Sem dúvida, Rui Barbosa ficaria estupefato se estivesse conosco.

Após deixar a parte interna da Fundação Casa de Rui Barbosa, passeei pelo belíssimo jardim e fui conferir na antiga garagem os antigos carros do ilustre morador. Não há como não se impressionar com o imponente Daimler Benz com oito cilindros, que certamente na época deveria fazer um grande sucesso pelas ruas do Rio de Janeiro. Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade o chamou de “um monstro de rodas, uma catedral negra”.

Já estava me acostumando com a tranquilidade da chácara onde viveu Rui Barbosa, mas tive que ir embora. Sem dúvidas, ficaria horas naquele ambiente que de longe lembra a agitação do Rio de Janeiro. Mas, antes de terminar esta crônica, não posso deixar de mencionar outra grande frase de Rui Barbosa: “A degeneração de um povo, de uma nação ou raça, começa pelo desvirtuamento da própria língua.” Apesar de tanto escárnio vindo da política, do judiciário etc., certamente, a língua é a única que permanece viva e inabalável.


Fábio Rodrigo G. da Costa é escritor e mestre em estudos linguísticos.

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