Tradição e cultura do bairro do Porto da Pedra, por Erick Bernardes
Ontem à noite, reunidos entre amigos em uma dessas pizzarias no bairro do Porto da Pedra, enumerávamos alguns pontos considerados lugares de sociabilização. Surgiu assunto para a noite toda, pena que no estabelecimento onde estávamos havia limitação de horário para o rodízio. Pois é, nem bem o relógio marcou onze e meia da noite e já se mexiam os garçons retirando talheres, panos, pratos e até chopes e refrigerantes sem ainda havermos esvaziado de todo o líquido dos copos.
Antes de “jogarem o verde” para sairmos da pizzaria, durante umas duas horas ou mais, a variedade de assuntos brotou fácil da nossa mesa. Incrível como falamos tanto sem perceber. Muito tempo sem nos vermos. Claro que não nos faltaria assunto. No meio do bate-papo, dois desses “points” culturais do município de São Gonçalo destacaram-se e serviram de tema da conversa. O primeiro e mais lógico foi sobre a Escola de Samba Unidos do Porto da Pedra, obviamente, por causa do nome igual ao registro do bairro onde se faz representante, e também devido ao papel social que a agremiação exerce por lá. Em segundo lugar, o referido “point” que virou centro da conversa foi o lugar cultural existente no Shopping São Gonçalo — contrariando a função exclusivamente mercadológica, para a qual esses enormes complexos de lojas foram criados. Saraus literários, oficinas de música, cinema, teatro, dentre outras atrações, tudo isso existe no shopping do bairro Boa Vista, vizinho ao Porto da Pedra.
Já no caso da escola de samba, me recordo do amigo Rodrigo, que foi (e ainda é) mestre-sala da Unidos do Porto da Pedra, consecutivamente, pontuando com notas altas nos desfiles oficiais cariocas. Lembro-me bem do rapaz introvertido, e transformando noutra pessoa já nos ensaios que ocorriam na comunidade. Incrível o poder que a festa carnavalesca possui: o garotão lento e tímido convertia-se no desinibido condutor da porta-bandeira Cyntia, instantaneamente. Daí nos bater aquela nostalgia. Tempo bom também de quando frequentávamos a extinta festa junina chamada popularmente de ATN (Arraiá do Tio Nonô), ao som de “ai aiai tô doidinha pra casar” da tradicional música caipira. Pois é, recordação gostosa do Porto da Pedra, de quando íamos juntos e bebíamos caipifrutas com o dinheiro esmirrado que ganhávamos cada um do seu pai. Sem contar os namoros e “ficadas” dos bailes quentíssimos do Castelo das Pedras. Impossível esquecer tanta noitada bacana em São Gonçalo.
Contudo, é melhor parar por aqui, pois a nostalgia insossa vara a noite se deixar. E, para piorar, o garçom da pizzaria sem graça insiste em desmontar a mesa. Melhor chamarmos o Uber que já é hora. Feito. Três minutos para o carro vir. Chegou. Tchau, pessoal.
>>> Publicado originalmente em 13/01/2019.
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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.