Estudante congolês espancado diz ter sido vítima de racismo e sairá do país
Universitário, estudante de engenharia na UFF, continua internado e deverá passar por cirurgia para reconstrução da face
Vítima não pôde fazer boletim de ocorrência na delegacia e nem polícia o procurou
O estudante congolês que cursa engenharia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e foi espancado por um grupo de homens armados na Canteira, em São Domingos, diz que não tem condições emocionais de retomar a vida e vai passar um tempo na casa da família no Congo. O jovem, que continua internado no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), ainda traz no corpo as marcas das agressões e precisará ser submetido nos próximos dias a uma nova cirurgia, para reestruturação do lado esquerdo da face.
O estudante contou que havia decidido mudar-se para Niterói no ano passado, após passar para o curso de engenharia de produção da UFF. Na época ele também foi aprovado no vestibular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas optou pela instituição fluminense, acreditando que a cidade era mais tranquila em relação à capital do Estado. No entanto, após o crime ele planeja sair do país e passar uns meses com a família no país de origem.
“Ainda não estou pronto para retomar a minha vida e voltar às aulas, já que estudo próximo à Cantareira, e a região está cada vez mais perigosa para os estudantes. Antes de vir para o Rio de Janeiro, ouvia histórias sobre a violência no Estado, mas não imaginava que seria uma vítima de um crime tão cruel. Me sinto muito traumatizado, porque sempre andei pelas ruas com muita cautela e, mesmo assim, fui covardemente agredido”, contou o jovem, que acredita ter sido vítima de racismo.
“Fui espancado e até ameaçado de morte, por um grupo de homens que estava à procura de uma pessoa negra. Nunca imaginei passar por isso no Brasil, sobretudo porque o país é um dos maiores berços da miscigenação étnica. É triste perceber que as pessoas ainda associam o negro a um bandido. Me sinto revoltado com toda essa situação, porque sei que a cor da minha pele fez com que eu fosse vítima de toda essa violência”, desabafou.
Até o fechamento desta edição, o caso ainda não havia sido registrado em delegacia.