Atentado de militares contra pescador no Salgueiro deve cair no esquecimento como chacina de 2017
Lei federal, sancionada em 2016, restringe investigação civil contra atos de improbidade militar
Um pescador, sua mulher e filho de apenas dois anos quase foram fuzilados com mais de trinta tiros após ação atabalhoada das forças de intervenção militar no bairro do Salgueiro, na madrugada da última segunda (16).
A repórter Lislane Rottas, do jornal O Fluminense, deu primeiro a notícia ainda no início da tarde de segunda. Ela teve acesso ao depoimento do pescador, de 23 anos, que não teve a identidade revelada.
O jovem informou à polícia que homens das Forças Armadas estavam escondidos no mato às margens da estrada de Itaoca e, sem qualquer abordagem, fizeram os disparos contra o veículo onde estavam ele e a sua família.
Os militares só pararam de atirar quando ouviram choro de desespero da criança e da muher.
O pescador levou três tiros nas regiões lombar, costela e braço. Após o ataque, foi levado com a família por uma ambulância do Exército para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, onde passou por cirurgia e foi liberado.
O automóvel, uma Fiorino que transportava materiais de pesca e mercadorias, ficou cravado de balas na lataria.
O delegado titular da 72ª DP (Mutuá), Roberto Gomes, instaurou inquérito e requisitou ao Comando Militar do Leste (CML) a identificação dos envolvidos no fato.
Mas tal pedido deve esbarrar na nova legislação federal (PLC 44/2016) que retira da Polícia Civil e da Justiça comum a responsabilidade de investigar e de punir militares suspeitos de atentar contra a vida de civis em operações conjuntas de segurança envolvendo forças armadas e polícias estaduais.
A ação irresponsável das forças de segurança no pobre e violento bairro gonçalense na segunda, lembra outra ação ocorrida em novembro de 2017, quando sete pessoas foram assassinadas no episódio conhecido como o caso dos sete mortos que ninguém matou.
Ali ficou claro as consequências nefastas da nova legislação federal, que reduz apenas à esfera militar as investigações. O que é temerário numa democracia.
Até hoje a chacina não foi esclarecida, ninguém foi responsabilizado e o seu destino provável é o esquecimento.
Sobre o pescador, o responsável pela operação no Salgueiro, coronel Carlos Cinelli, informou que foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso.
- Abrimos a investigação e vamos buscar os detalhes que envolveram a ação. Já sabemos que não havia um confronto no momento, mas a movimentação do homem fez com que os militares atirassem, em legítima defesa - disse o coronel a O São Gonçalo.
No momento dos disparos, o pescador jogava fora água do bebedouro do passarinho.