Clínica-Escola do Autista de Itaboraí convoca inscritos em fila de espera
Há quase dois anos aguardando uma vaga na Clínica-Escola do Autista, em Itaboraí, para a sua filha, a pequena Maria Eduarda Mendes, de 4 anos, Ana Patrícia Mendes, 34 e moradora do bairro de Engenho Velho viu a espera terminar na última semana. Após receber a ligação, marcando o agendamento da consulta com o neuropediatra, Mauro Lins, para a última sexta-feira (15/06), a mãe recebeu o diagnóstico de autismo da filha e começará a realizar as terapias na instituição.
- Agora estou aliviada, pois sei que a minha filha terá o tratamento apropriado. Ela já tem laudos médicos e faz acompanhamento no Capsi (Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil), em Itaboraí, mas apenas com psiquiatra infantil. Aqui ela terá acompanhamento com psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e outros. Estou muito contente, e ansiosa para começar o tratamento - disse Ana Patrícia.
Itaboraí é a primeira cidade do Brasil com uma instituição pública no atendimento multidisciplinar à pessoa com o transtorno. Inaugurada em abril de 2014, a Clínica-Escola do Autista é uma iniciativa da Prefeitura de Itaboraí, atendendo a uma antiga luta de familiares. É fruto da Lei Federal 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Além da Maria Eduarda, mais 11 pessoas, com idade entre 3 e 20 anos foram chamadas para a avaliação com o neuropediatra. E destas, apenas uma não apresentava diagnóstico de autismo e outra precisará de mais encontros com o médico para fechar o diagnóstico. Isso deve-se ao número de profissionais que a instituição recebeu no último mês, no total de cinco, sendo duas fonoaudiólogas, psicóloga, psicopedagoga e uma terapeuta ocupacional.
Segundo a diretora da Clínica-Escola do Autista, Márcia Novis foram chamadas seis pessoas da rede municipal de ensino de Itaboraí e seis pessoas do município. Mas ainda há 16 pessoas da rede municipal de ensino em fila de espera, 41 do município e mais de 300 de outros municípios.
- Quem dera se pudéssemos atender a todos, mas devido o atendimento ser individualizado e específico não podemos ter um grande número de alunos-pacientes. Outros municípios também deveriam investir em clínicas-escolas para os autistas. O agendamento para a avaliação com o neuropediatra foi via telefone e vocês não imaginam a alegria das mães, algo que não dá para descrever - disse Márcia Novis.
Reconhecido internacionalmente como uma das maiores autoridades em autismo no Brasil, o neuropediatra Mauro Lins atende na Clínica-Escola do Autista há aproximadamente 4 anos e seis meses. E de lá para cá já foram muitos atendimentos e acompanhamentos. Para esses atendimentos primários, a consulta durou em média 40 minutos, e nela o médico observa e avalia o comportamento dos atendidos. Além de conversar com o responsável o motivo que o levou a procurar atendimento médico.
- Itaboraí é um dos poucos municípios que ainda investe em uma estrutura de atendimento multidisciplinar à pessoa com o transtorno. Os autistas precisam de terapia e suporte, e para o tratamento surtir efeito, é necessário principalmente aceitação da família e paciência. Além de um seguir as orientações passadas pelos profissionais, tanto da Saúde quanto da Educação - disse Mauro Lins ressaltando o progresso nítido dos alunos-pacientes da Clínica-Escola do Autista neste período que está na instituição.
Mesmo sem vagas para novos alunos-pacientes, pais e/ou responsáveis podem procurar o local para receber acolhimento e orientação, as segundas e quartas-feiras à tarde, com a coautora da lei federal, Berenice Piana, que também é mãe do autista Daylan, 23 anos, aluno-paciente da Clínica-Escola. Para agendar com a Berenice basta ligar para a Clínica-Escola, no telefone (21) 2635-7802.
O objetivo é inseri-los no ensino regular, assim adaptando para o “mundo lá fora”. Vale ressaltar que além da escolaridade e fornecido atendimento educacional especializado (AEE), para alunos que estudam no ensino regular e fazem o complemento na Clínica-Escola.
Renata Aparecida de Araújo, 43 anos acompanha o filho Moisés Caleb de Araújo, 6 anos há quase dois anos na Clínica-Escola e conta como foi descobrir que o filho era autista. O diagnóstico veio por meio do neuropediatra Mauro Lins, que só de olhar conseguiu fechar a avaliação. Diferente de outros médicos, como pediatras, que diziam não ser nada e que ia passar.
- Meu filho tinha convulsões e chorava muito. Eu não sabia o que era autismo e até hoje venho aprendendo. Hoje vejo que se seguir o que nos é passado dá para viver naturalmente. Já consigo até assistir televisão e nos alimentar corretamente, coisas simples do dia a dia. A Clínica-Escola foi um divisor de águas na minha vida e eu só tenho a agradecer pelas pessoas que trabalham aqui, nos enxergam e nos tratam como seres humanos - disse Renata, moradora de Itambi, que tem um sonho de ganhar dinheiro para montar uma instituição como esta.
Ainda segundo a diretora, Márcia Novis, é preciso que as pessoas que já se inscreveram em algum momento para a Clínica-Escola do Autista e não foram selecionados, retornem a instituição para atualizar os dados, visto que podem ter, por exemplo, mudado de telefone. “Pretendemos continuar chamando, de acordo com as vagas disponíveis nas terapias”, frisou Márcia.
Atualmente a instituição conta com aproximadamente 170 alunos-pacientes, com idade entre dois a 44 anos, residentes de Itaboraí, e ainda dos municípios de São Gonçalo, Tanguá, Niterói, Rio Bonito e Magé. Com um tratamento multidisciplinar, o projeto público pioneiro visa à integração de crianças e adolescentes autistas ao ensino regular, oferecidos por profissionais especializados no tema.
A Clínica-Escola do Autista conta com quatro pedagogas especializadas em autismo, duas terapeutas ocupacionais, três psicólogas, duas fisioterapeutas, três psicopedagogas, duas nutricionistas, duas fonoaudiólogas, duas assistentes sociais, neuropediatra e arte terapeuta. Além de diretora, coordenadora pedagógica e de disciplina, recepcionista e serviços gerais.
A Clínica-Escola do Autista fica localizada na Rua Comandante Ari Parreiras, nº 327, em Venda das Pedras – Itaboraí. Horário de funcionamento, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
O que é Autismo
O Autismo, também conhecido como Transtornos do Espectro Autista (TEA), são transtornos que causam problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e comportamento social da criança. Atualmente, estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo todo possuem algum tipo de autismo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com relação ao Brasil, esse número passa para 2 milhões. Uma pesquisa atual realizada neste ano do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) diz que o autismo atinge ambos os sexos e todas as etnias, porém o número de ocorrências é maior entre o sexo masculino (cerca de 4,5 vezes).
Esse transtorno não possui cura e suas causas ainda são incertas, porém ele pode ser trabalhado, reabilitado, modificado e tratado para que, assim, o paciente possa se adequar ao convívio social e às atividades acadêmicas o melhor possível. Quanto antes o Autismo for diagnosticado melhor, pois o transtorno não atinge apenas a saúde do indivíduo, mas também de seus cuidadores, que, em muitos casos, acabam se sentindo incapazes de encararem a situação.
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