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Foto do escritorJornal Daki

Moro em São Gonçalo, não gosto de Niterói, por Mário Lima Jr.



Hoje faz 29 anos que moro em São Gonçalo. E eu não gosto de Niterói desde 2002, quando comecei a fazer faculdade lá. É um sentimento infantil e mesquinho, eu sei, mas não consigo evitá-lo. Niterói roubou de São Gonçalo ao longo da história e continua roubando até hoje.

De acordo com o livro “O município de São Gonçalo e sua história”, escrito por Maria Nelma Carvalho Braga, São Gonçalo pertenceu a Niterói por 71 anos (1819 a 1890). E em 1892, por sete meses amargos, de novo o município gonçalense voltou a ser distrito de Niterói. Na data da primeira anexação São Gonçalo já tinha 240 anos de existência! Uma imposição criminosa com o intuito de atender interesses políticos distantes do que era melhor para São Gonçalo.

A pesquisadora Maria Nelma afirma que São Gonçalo ainda sofre com os resquícios desse período anterior à emancipação definitiva. O passado político de Niterói tem culpa. Mas sem revanchismo com os niteroienses, por favor. Embora eles tenham roubado e nunca mais devolvido a freguesia de São Sebastião de Itaipu e deixado São Gonçalo sem praia oceânica e sem investimentos imobiliários de alto padrão.

A inveja é um sentimento tão mesquinho quanto o ódio. Niterói, no entanto, não é tudo aquilo que eu gostaria que São Gonçalo fosse. A renda per capita de Niterói é três vezes maior do que em São Gonçalo, Niterói é uma das líderes brasileiras em qualidade de vida, mas sofre com a desigualdade social. Em São Gonçalo, pelo menos, estamos construindo uma cidade juntos, a exploração do povo pelo próprio povo é menor. Avante, gonçalenses, mudar a nossa história.

O gonçalense deixa um rio de dinheiro no comércio do Terminal das Barcas e do Terminal Rodoviário de Niterói. Niterói absorve o tempo de vida do trabalhador perdido no funil da Alameda São Boaventura e nos engarrafamentos da Niterói-Manilha. Sequestra a identidade dos gonçalenses que dizem para os amigos cariocas que moram em Niterói e escrevem essa mentira nas redes sociais. Prende o estudante universitário que só encontra o curso desejado na Universidade Federal Fluminense. Enfim, sequestra o gonçalense profissionalmente qualificado que sobe na vida e se muda pra morar mais perto do Rio de Janeiro, geralmente a cidade onde trabalha.

Não gosto de Niterói e sentimento não se explica. Não tenho a pureza de espírito dos MC’s Roni e Sargento, que apesar da dura realidade cantada no rap Fazenda dos Mineiros, conseguem gostar da cidade vizinha.


Mário Lima Jr. é escritor.

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