50 refugiados de guerra congoleses vivem no Catarina, você sabia?
Não, eu também não sabia. Doze famílias de origem congolesa, que fugiram dos horrores da guerra que devasta o seu país natal, a República Democrática do Congo, há mais de duas décadas, foram 'descobertas' pela equipe técnica da Secretaria de Desenvolvimento Social (SMDS) abrigadas no bairro do Jardim Catarina. São 50 pessoas, entre adultos, crianças e adolescentes.
Segundo o secretário da SMDS, Marlos Costa, que visitou as famílias refugiadas, o objetivo da secretaria é prestar assistência e todo apoio necessário para garantir a elas acesso aos seus direitos básicos para que não vivam em condições precárias.
- Tivemos a oportunidade de conversar com as famílias. Muitas delas foram separadas pela guerra e hoje estão em busca de uma nova vida e novas oportunidades. A secretaria precisa integrar essas famílias, inseri-las nos programas sociais do Governo Federal. Faremos o que for possível para que elas possam ter oportunidades de escrever uma nova história. Essas pessoas merecem e serão acolhidas - afirmou Marlos.
Dentre as necessidades emergenciais apontadas pelas famílias, estão empregabilidade e alimentação. Alguns refugiados são estudantes do ensino superior, nos cursos de Relações internacionais e de Enfermagem, mas encontram dificuldades em ingressar no mercado de trabalho.
Marlos afirma que a SMDS fará uma ação junto às equipes do Bolsa Família, realizando a inscrição no Cadastro Único (Cadúnico). As famílias também serão cadastradas nos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), onde serão referenciadas e poderão ter acesso aos diferentes programas sociais do Governo Federal, com acompanhamento psicológico e de assistentes sociais.
Foi providenciado pela SMDS à empresa de energia Enel, uma parceria que garantirá a reforma das instalações elétricas das casas onde residem, além da renegociação e parcelamento de dívidas. Estão previstas atividades culturais e recreativas com o grupo África em Nós.
Os congoleses, que já estão em São Gonçalo há 4 anos, depois de passar por Angola e outros países, vem recebendo auxílio da Paróquia Santa Catarina Larouré e da Igreja Batista Memorial, no mesmo bairro, e agora podem vislumbrar o apoio institucional da Prefeitura.
Breve histórico de uma tragédia
A República Democrática do Congo (não confundir com República do Congo, seu vizinho), que ficou independente da Bélgica em 1960, vive uma rotina de guerras, saques e sofrimento.
Quem nunca viu fotos horripilantes de congoleses expostos em zoológicos humanos na Bélgica? Ou fotos de crianças mutiladas a mando do rei Leopoldo para 'darem o exemplo' para quem não quisesse arrancar do solo os diamantes?
Rica em recursos e belezas naturais, a República Democrática do Congo poderia ser a representação de um paraíso tropical em pleno coração da África não fosse a cobiça de países vizinhos e empresas internacionais por ouro, diamante, cobalto, cobre, carvão e coltan (usado na indústria eletrônica).
A disputa por minérios envolve a região numa guerra que já deixou cerca de seis milhões de mortos desde 1993. O conflito, praticamente ignorado pela imprensa e a comunidade internacional, é considerado o maior holocausto da história.
O Brasil liderou as forças de paz da ONU na República Democrática do Congo por dois anos e meio, de junho de 2013 a dezembro de 2015, comandando um efetivo de 20 mil soldados.
Abaixo relato do general Carlos Alberto Santos Cruz (leia aqui a entrevista completa) que liderou as forças de paz da ONU. Dá para entender porque um grupo de pessoas decide abandonar a sua terra natal:
Por que esse conflito é tão sangrento, com os rebeldes massacrando a população indefesa?
É uma história muito longa de agressão e opressão civil. Os grupos armados vêm de uma herança onde os mais fortes podem fazer o que quiserem com os mais fracos, são o senhor da vida e da morte dos mais fracos. Assim foi na escravidão, assim foi no colonialismo e assim continua.
Estupram mulheres, entram na casa e comem o que querem, pegam tudo, botam fogo na casa. Sequestram e levam as crianças para o grupo armado. Fazem uma distorção histórica de violência e impunidade. E, para o grupo dominar aquele ambiente, aquelas vilas que controla, impõe o terror.
E o terror é para todo mundo. Então, as pessoas mais vulneráveis, mais fracas, sofrem muito. Por isso, as pessoas arrumam tudo, e fogem, vão para o campo de refugiados. Nele, há comida e existe uma segurança fornecida pelo Exército. Mas, para elas, é uma realidade muito triste, pois no campo de refugiados não existe nada que seja seu.
Você tem uma barraca de palha; tudo o que você tem é a roupa do corpo, e a sua próxima refeição depende de quem vai te dar.
(...)
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