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Foto do escritorJornal Daki

Cedae, privatização e como fica São Gonçalo nessa história



Inaceitável sob todos os aspectos querer nos empurrar goela abaixo a dilapidação de um patrimônio do Estado com a alegação de que é necessário para estancar o déficit nas contas do governo. A venda da Cedae, na realidade, nada mais é que entregar à iniciativa privada uma estatal que contrariando todas as declarações do governador Pezão e de sua equipe de “econobestas’ dá lucro sim.

Apesar de a empresa valer entre R$ 10 e R$ 14 bilhões, nos bastidores, membros do governo afirmam, em alto e bom som, que a negociação seria de cerca de R$ 4 bilhões, valor irrisório – a receita operacional da CEDAE em 2015 foi de R$ 4,47 bilhões. No mesmo período, o lucro líquido foi de R$ 248,8 milhões.

O que se discute hoje não é a venda de patrimônio público, mas sim a entrega de ações da estatal como garantia de um empréstimo tomado a bancos privados ou estrangeiros como a solução para quitar o salário dos servidores e que, na realidade, sempre se soube que empréstimo não resolve problema algum. Trata-se de um paliativo que atende às necessidades atuais, mas que num futuro não muito distante quem vai pegar a conta é mais uma vez a população do Estado do Rio.

O Termo de Compromisso para Recuperação Fiscal do Estado, assinado recentemente sob a égide do Governo Federal, também prevê que, se a venda for realizada por valor inferior ao do empréstimo obtido, a diferença será paga com recursos da previdência social do servidores, sacrificando ainda mais os funcionários públicos. Mas, e aí? Onde São Gonçalo entra nessa história?

A cidade tem sob seu domínio territorial a ETA Imunana-Laranjal, a segunda maior estação de todo o estado, que capta e trata a água que recebe dos Rios Guapiaçu e Macacu, vindos de Cachoeira de Macacu e manda para São Gonçalo, Niterói, Itaboraí e Ilha de Paquetá. Inaugurada em 1954, a estação trata cerca de 6.700 litros de água por segundo (isso mesmo!), para uma população de mais de 1,6 milhões de pessoas. A ETA entraria no bolo da privatização também? Sem dúvidas, seria uma importante e lucrativa parte do sistema nessa conta.

Privatizar o saneamento básico é apostar no que não deu certo e caminhar na contramão da tendência mundial de reestatizar o sistema. Muitas cidades estão retomando o controle sobre o serviço, devido às altas taxas cobradas pela iniciativa privada e à piora das condições nos bairros mais pobres por não haver interesse de empresários em investir nesses locais e em São Gonçalo não será diferente.

Outra questão que deve ser levada em consideração é o fato de que mesmo tendo a ETA Imunana-Laranjal operando a todo vapor, bairros como Mutuá, trechos do Porto da Pedra, Santa Izabel e até de Vista Alegre volta e meia se vêem diante da falta de água em suas torneiras.

E a questão do saneamento básico? Não é novidade pra ninguém que São Gonçalo ainda sofre com este problema. Quem ainda não teve a oportunidade de visitar um parente ou amigo em Marambaia, Apolo II, Jardim Bom Retiro e contemplar as valas negras que cortam estes bairros?

Uma situação muito comum na instalação de água são os ‘gatos’. O aumento das áreas de risco na cidade cresceu nos últimos tempos. Então, como entrar nas comunidades dominadas pelos traficantes e milicianos armados, impedindo o trabalho destes profissionais da água?

Infelizmente, nas regiões mais pobres as ligações clandestinas são ainda mais frequentes. Especialmente pelo não planejamento territorial dos lugares. Como fazer para não se meter em conflitos violentos e fazer o trabalho almejado? E, finalmente, o que pra nós é um pontos cruciais que a eminente venda da Cedae vai afetar em cheio a todos nós, gonçalenses.

É possível ver na cidade, inúmeros buracos abertos no chão que técnicos da concessionária fizeram para realizar algum tipo de serviço de manutenção e que permanecem até hoje. Os remendos no asfalto são visíveis a qualquer um e ficam expostos esperando que a prefeitura vá ao local e refaça o que tivera feito anteriormente: o recapeamento asfáltico.

Se uma companhia como a CEDAE, estatal, não consegue trabalhar em uma parceria sadia com a prefeitura de São Gonçalo, fazendo com que nosso dinheiro não seja desperdiçado, o que esperar de um futuro privado? A prefeitura conseguirá trabalhar em pleno acordo com uma empresa assim?

Uma das coisas que deixam o cidadão mais irritado é esse “passa-repassa” nas responsabilidades. Hoje, prefeitura e Cedae culpam-se uma a outra por problemas que acontecem em diversas vias da cidade. No final, quem sofre é o morador.

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