Colapso na saúde: falta tudo no Hospital Geral do Colubandê. UPAs estão fechadas
É um péssimo momento para ficar doente ou por obra do destino ser obrigado a procurar uma unidade de saúde do estado em São Gonçalo. As duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) no município, em Santa Luzia e Colubandê, estão fechadas. Os funcionários, sem pagamento e sem condições mínimas de trabalho, cruzaram os braços. Também no Colubandê, o Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT) o único referência em atendimentos de média e alta complexidades funciona por aparelhos, com menos de 15% de sua capacidade.
O Jornal Daki passou a tarde e parte da noite de ontem (19) no HEAT acompanhando o sofrimento de quem chegava atrás de atendimento médico. A situação é desesperadora. Segundo relatos de funcionários, a maioria dos profissionais que trabalham na unidade são contratados pela Associacao Congregação Santa catarina, Organização Social (OS) que administra o hospital desde meados de 2014, e não recebem regularmente os salários desde setembro. Para piorar o quadro, a falta de recursos repassados pelo estado à OS impede a manutenção de equipamentos em áreas vitais como UTIs e CTIs que foram obrigadas a fechar.
Os pacientes que continuam internados e não podem ser transferidos recebem a solidariedade de funcionários e familiares que compram materiais essenciais à internação, como fraldas, soro, agulhas hospitalares e analgésicos. O serviço de limpeza foi quase reduzido a zero e em diversas alas o ar condicionado foi desligado ou simplesmente quebrou, impossibilitando qualquer tipo de permanência na unidade sob risco de um surto de infecção hospitalar. Apenas ontem ocorreram duas mortes de pacientes internados nas CTIs que, segundo informações, estavam sem ar condicionado e oxigênio.
O caso de dona Terezinha Leite, 74 anos, é emblemático. Diagnosticada com colelitíase, a popular crise de vesícula, Terezinha espera há dois anos por uma cirurgia que foi marcada para 04 de janeiro. Nesta semana, porém, seu médico a orientou a procurar imediatamente o hospital se sentisse dores crônicas para imediata cirurgia. As dores vieram na hora errada. Ainda na triagem para internação, ela foi informada que os leitos estão reservados apenas para casos gravíssimos, como baleados e vítimas de AVC. Na sinistra lista de atendimentos, o caso de Terezinha não entra. O HEAT possui 198 leitos.
Inconformada e desesperada, a filha de dona Terezinha, Vanuzia Leite, conseguiu convencer a chefe da triagem e os médicos que sobraram no HEAT (médicos cedidos pelo Corpo de Bombeiros) sobre a necessidade de internação da mãe. Depois de 8 horas nos corredores com dor e sensação de abandono, finalmente é internada na CTI, mesmo avisada da situação precária da unidade e da falta de materiais hospitalares essenciais, que a filha mais tarde compraria numa farmácia em Alcântara.
Mas a via crucis não chegou ao fim. Com inflamação na vesícula avançada, os médicos não chegaram a um consenso sobre fazer a cirurgia ou lavar as mãos dando alta para a paciente. Depois de um desentendimento entre filha e médico, Vanuzia correu à 73ª DP e fez boletim de ocorrência por omissão de socorro. Tenso. Já com os ânimos amainados, a direção conseguiu a transferência de Terezinha para o Hospital Prefeito Cáffaro, em Itaboraí, que vive uma situação igual ou pior que o HEAT.
E dona Terezinha segue, vulnerável, aflita, com dor; dor que na maioria das vezes não sai no jornal.
Boas Festas, senhor governador...
Com colaboração de Micheline Melo
Atualizado em 21/12 às 21:36.