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"Fiz uma promessa a mim mesmo que só entraria na Câmara eleito." Entrevistamos Dudu do Cat



O Jornal Daki inicia hoje uma série de entrevistas em formato de bate-papo com os 27 parlamentares da cidade de São Gonçalo.

Quem inaugura essa jornada é o vereador Eduardo Barbosa Paulo ou, como é conhecido, Dudu do Catarina. Ele tem 36 anos, é casado e pai de uma filha de 5 anos.

Se elegeu pelo PDT em 2012 com 3.887 votos na terceira tentativa:

"Pulei de 674 votos em 2004 para quase 4 mil em 2012. Acredito que isso é prova de reconhecimento, principalmente, no meu bairro", afirma Dudu.

Hoje o vereador está filiado ao partido Solidariedade (SDD), mas não esquece suas raízes no PDT do velho Brizola:

"Gosto muito do PDT, mas problemas internos fizeram me afastar", lamenta o vereador, que teve um relacionamento difícil com o comando de campanha do então candidato Adolfo Konder, reclamação de muitos candidatos da coligação:

"Acordos e compromissos não eram cumpridos pelo Adolfo. Mas isso já passou e não me impede de reconhecer que ele é um bom articulador político, trouxe muita coisa para a cidade", pondera.

Como o próprio nome indica, Dudu é nascido e criado no Jardim Catarina, sua principal base eleitoral na cidade. Durante algum tempo foi administrador de um posto de saúde regular no bairro. E na sua opinião a saúde é a maior carência da região:

"No meu gabinete as pessoas reclamam majoritariamente da falta de três coisas: segurança, infraestrutura e educação. Mas acredito que a área da saúde, dentre todas essas demandas dos moradores, é a que precisa mais avançar", opina.

Para ilustrar a diferença de opinião entre o parlamentar e os moradores, ele cita um relato que ouviu em rápido debate com um morador sobre os problemas do bairro:

"Ele me disse que entre pavimentação e saúde, prefere a pavimentação, porque ficar doente é uma vez ou outra, mas rua sem asfalto faz com que ele pise na lama todos os dias", lembra.

É, o raciocínio faz sentido, e prova o quanto se deve avançar num dos maiores bairros da América Latina, mesmo tendo recebido investimentos maciços do governo do estado desde a década de 1990, quando foi iniciado o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG): "O Jardim Catarina é muito grande e a prefeitura, sozinha, não dá conta", reconhece.


Recentemente o vereador teve acesso a um documento, desconhecido pelos seus colegas e pela população, que celebrava um convênio, ainda em 2014, entre o Ministério das Cidades, via Caixa Econômica Federal (CEF) e prefeitura dentro do programa 'Pró-Transporte de obras de micro-drenagem e pavimentação em todo o município.

Segundo a CEF, as obras estão atrasadas e, por conta disso, de um total de pouco mais de 171 milhões de reais, apenas 912 mil foram liberados até agora. A data-limite para a liberação dos recursos é novembro de 2016:

"Descobrimos esse convênio após fazermos um requerimento de informação à prefeitura. A secretaria (infraestrutura) criou uma relação de 110 ruas que seriam contempladas com as obras. Aí, pasmem, senhores, como diz o Alexandre (Gomes, também vereador), descobrimos que 25% dessas ruas já estão prontas", revela.

No início do ano a prefeitura anunciou com estardalhaço ter em mãos 180 milhões de reais para a realização das obras, mas não detalhou o projeto:

"De posse dessas informações pedi uma audiência com o prefeito que ouviu nossos argumentos. A ideia é incluir ruas do Catarina nas obras. Nenhuma rua estava contemplada", disse Dudu, que após ter conhecimento desses recursos criou o movimento "Ipuca Melhor", que é uma localidade extremamente carente do bairro, às margens da BR 101. O vereador ainda pretende realizar uma audiência pública sobre o assunto:

"Antes vamos conversar com os moradores e com o secretário de obras para sabermos o que é melhor para todos", planeja.

O Jardim Catarina possui 5 representantes residentes ou atuantes no bairro. São os vereadores Iza Deolinda, Armando Marins, Gilson do Cefen, Professor Paulo e, claro, Dudu do Catarina, que resolveu montar seu gabinete na própria base política e eleitoral:

"Preferi o gabinete aqui porque posso compartilhar experiências e conhecimento com os moradores. Como sempre lidei com as pessoas o tempo todo a vida inteira, senti falta deste contato quando estava com o gabinete no Centro", observa. O gabinete fica na Rua Santa Catarina, 256.


O vereador não se considera nem de oposição nem de situação. Mas salienta o seu papel como vereador em uma Câmara muito diferente do que era num passado ainda recente:

"A prefeitura estava acostumada com a falta de fiscalização. A Câmara mudou! Temos colegas ali que vem fazendo a diferença. E isso é comprovado com o expressivo número de projetos de lei apresentados, os constantes requerimentos de informação como esse que revelou um convênio entre CEF e prefeitura, audiências públicas... Enfim, é inegável a mudança, são poucas as sessões que não atingem o quórum", afirma Dudu, que diz ter uma boa relação com o prefeito, mesmo não sendo do seu grupo político:

"Temos uma relação de respeito mútuo, mas a minha postura como vereador deve ser crítica e fiscalizadora com o executivo. De todas as mensagens do prefeito enviadas à Câmara, lembro de ter votado contra apenas em três ocasiões", lembra.

Sobre a administração Mulim, Dudu alerta para o inchaço da folha de pagamentos que já está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal por conta do alto número de funcionários comissionados nas secretarias e nas fundações do governo:

"Corremos o risco de ver funcionários com salários atrasados a partir de julho. Existe um TAC (termo de Ajuste de Conduta) com o ministério público sobre isso, que tem que cumprir, cortar na própria carne. Sou contra cargos em comissão usados por cabos eleitorais. Tanto que fui contra a indicação de diretores para as escolas. Temos que acabar com isso. Não sou contra cargos de confiança, mas deve haver um limite".

O vereador foca em sua reeleição em 2016 e admite estar procurando outro horizontes ao mesmo tempo que cogita sair do SDD: "Estou trabalhando pela minha reeleição e não sei se continuo no partido. Tenho até 30 de setembro para decidir. Trabalho para passar no teste em 2016. E passar no teste é ter mais votos".

O parlamentar fez uma revelação no mínimo curiosa: "Fiz uma promessa a mim mesmo que só entrava na Câmara eleito. Não tinha a menor ideia de que os gabinetes eram minúsculos e de PVC".

Dudu, que faz parte do "grupo dos 13" vereadores que se reúne em torno de um projeto político de fôlego de médio e longo prazos, e que trabalha para que desse grupo saia um candidato competitivo a prefeito no ano que vem, trabalha para romper a cultura do imediatismo político na cidade:

"Nós queremos uma São Gonçalo que estabeleça desde já um planejamento de médio prazo, por pelo menos para daqui a 30 anos. Penso que o Marlos, e essa é minha opinião, é um nome gabaritado na Câmara, advogado, auditor do TCE, reúne todas as condições para liderar esse projeto, fazer o dever de casa. Mas quem vai dizer é o povo, eu só tenho um voto. Uma coisa é certa: como auditor do TCE ele jamais será pego pelo Tribunal", afirmou com bom humor o parlamentar. Todos os prefeitos, de Ezequiel para cá, tiveram algum tipo de condenação pelo TCE.

O Dudu do Catarina 'gordinho' está com os dias contados. Recém operado de uma cirurgia bariátrica para diminuição do estômago, o parlamentar aposta na profissionalização administrativa para São Gonçalo avançar: "Temos que mapear com critério as demandas da população para não desperdiçarmos energia. temos que ter uma ouvidoria profissional, com gente concursada, de carreira e que aja de modo independente. Gente com indicação política na ouvidoria jamais vai levar os problemas para o prefeito", observa.

E finaliza, na área que mais se dedica: "A saúde deve se humanizar. As pessoas devem ser tratadas com carinho e respeito. Devemos melhorar a qualidade do atendimento. Concordo com o Dimas (Gadelha, secretário de saúde) que devemos melhorar a atenção básica, o estado das unidades, permitindo fácil acessibilidade".

Atualizado em 16:02

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